segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Arquitetura da Destruição: Eugenia, Biologia, História e outras coisinhas mais

Recentemente fui convidada por um colega da Universidade em que trabalho, a discutir sobrearquiteturadadestruição as relações entre Eugenia, Ciências Biológicas, História e outras coisas mais que eu quisesse falar, relacionado ao documentário “Arquitetura da Destruição”, dirigido por Peter Cohen. O evento em que eu falei vincula-se a um projeto de Extensão voltado à comunidade universitária. Eu, particularmente, adorei o convite, claro! Pois o tema aproxima-se de minha pesquisa de doutorado e sempre é um prazer discutir esses temas que me levam pelos caminhos da pesquisa…

Resolvi adaptar parte do que eu levei ao debate, que foi extremamente produtivo a meu ver, para o nosso blog, afinal, falei de história da ciência o tempo todo, praticamente! O texto completo terá 5 partes, para não ficar muito cansativo de ler… Neste primeiro post apresentarei o documentário e algumas discussões que nos posts seguintes serão aprofundados, ok?

Este documentário tem como grande diferencial, em relação a inúmeras outras produções e estudos no campo da eugenia e da história da segunda guerra, apresentar o vínculo das ações militares e da política com a estética e a arte.

No filme há a descrição de que as ideias de busca pela perfeição são percebidas através da arte. É com a arte que Hitler representa o que é belo, bonito, forte, desejável e aquilo que deve ser colocado à margem. Para Hitler, a arte, assim como a espécie humana, está se deteriorando. Ou melhor, a arte moderna esta que estuda formas, cores e a relação entre luz e sombra, promovendo percepções de diferentes aspectos ou configurações humanas representa e idealiza o quanto nós estamos definhando, degenerando. A partir dessas noções de arte, defendidas por Hitler, saúde e beleza se mesclam, tornando evidente o modelo de ser humano ideal.

Existe uma frase que mostra alguns pontos de partida para ideias como essas, da seleção e promoção da vida com base em ideais científicos e estéticos, da manutenção da vida em uma nação. É sobre esses pontos históricos que pretendo discorrer, brevemente, nos posts que virão nas próximas semanas, apresentando também alguns acontecimentos ligados a esses ideais eugênicos, presentes ainda hoje em nossa sociedade.

A frase que me refiro é uma citação de Hitler (ao menos supostamente), "se criarmos a síntese das três - Atenas, Esparta e Roma - nossa nação jamais perecerá".

É de conhecimento comum que na Grécia e Roma Antigas selecionavam aqueles que nasciam por aspectos físicos de estética e saúde (deformidades faciais e/ou corporais). Não se almejava, naquelas culturas e em tantas outras em que a prática de infanticídio era/é comum, o investimento em sujeitos fracos ou feios. A incumbência de criar crianças que não teriam a beleza que nos aproxima do Olimpo, a força dos deuses ou que nos faz vencer a guerra era pesada demais para se manter na sociedade. Assim, o infanticídio não era uma prática, na Antiguidade, tida como assassinato, mas quesito básico para se manter a civilização Grega e Romana, tal qual havia sido planejada.

A grande diferença entre as culturas ditas "da antiguidade" e a chamada Eugenia, que teve seu início no século XIX e que também pregava a seleção de pessoas para uma sociedade planejada e estética e intelectualmente aceitável, não foi no ato de seleção, mas em como se ancoram os argumentos para tanto.

Saltando alguns milhares de anos, ignorando completamente a Idade Média, partindo para a civilização das Luzes, temos uma volta ao planejamento e ordenamento da sociedade, um tempo de organização e produção do que é e como se faz ciência e sociedade, que possibilitou entendermos e estudarmos o mundo, como o fazemos hoje. A biologia teve um papel importantíssimo na emergência dos princípios eugênicos. Como dizia antes, a diferença em relação à antiguidade não foi no ato em si, mas em como se articulou e aceitou a proposta de seleção de pessoas nesses dois períodos históricos distintos. A eugenia, e outro movimento que teve sua emergência muito próxima em termos de tempo, o higienismo, teve como grande mote o discurso científico. Não era aceito somente selecionar, mas a seleção acontecia fundamentada em duas grandes teorizações do século XIX. Ambas fazendo aniversários centenários neste ano de 2009 (Aliás, o ano de 2009 é um ano bem interessante, se formos pensar em grandes datas históricas!)

E então? O tema interessou? Em breve, novos posts sobre o assunto: aguarde!!!

Obs: No Brasil, os direitos e a distribuição do filme é feita pela Versátil Home Video e Mostra Internacional de Cinema, tendo sido relançado em 2006. Atualmente é relativamente simples encontrá-lo em livrarias, ou mesmo em lojas de departamento, com preço bem acessível (quando escarafunchando promoções…).